sexta-feira, 21 de maio de 2010

A "cultura" da Bahia


Embora meus quase trinta, minha vida por vezes considerada rotineira, consigo lembrar claramente dos agitos, amores, desamores, empolgações e decepções dos meus saudosos 18 anos.. Conversando com um amigo sobre "pão-durice alheia" e também um pouco sobre viagens lembrei de uma  pitoresca viagem que fiz a Porto Seguro.
Como já contei anteriormente, morava no interior do Estado e sempre fui metida a ser dona do meu próprio nariz precocemente. Um dia conversando com um namorado que tinha na época, falei sobre viajarmos. Nada melhor que uma boa e longa viagem para se descobrir com quem se divide a vida..rsss Mas isso eu constatei lá, precocemente..
Conversa amadurecida, dinheirinho suado, guardado por uns meses e agência de viagens para informações. Pacote comprado, parcelado (cada um paga o seu, ok?, sendo que ele ganhava 5 vezes mais q eu, mas a mulher mega independente sugeriu, pedido aceito). Bem vamos aos planos, ficamos na casa da tia em POA para conseguir estar no aeroporto as 7:00 em pto.
A primeira noite:
Como combinado, fomos para a casa da tia (dele) que era muito mas muito liberal e perceptiva.kkk.. óbvio que eu morrendo de vergonha, dormi no sofá-cama da sala ao lado dele, para mim  era como estar fazendo "algo errado" na frente do nariz de um familiar..mas era óbvio, namorávamos ha algum tempinho e iríamos viajar juntos, claro que dormiríamos juntos por pelo menos alguns dias (que novidade)..mas eu ficava com vergonha, coisa de guria.
De manhã como de costume, acordei antes do galo cantar, olhei o relógio, tava quase na hora de despertar;;.. carinho, beijinho..a criatura não acordava, decidi usar a minha parte de sangue português e fazer-lhe um "carinho" à altura.. um bom tapa no traseiro, o que eu recebo? um oi, bom dia querida? Não. Um aiiii o que é isso? Não. Pior. Um enorme "pum" quase que no rosto, acho que o traseiro acordou antes da boca..kkkk imaginem o escândalo, eu nunca tinha visto meu namorado soltar pum, e ele me apresenta essa façanha horas antes de fazermos uma viagem romântica..é para matar.. o principe começara a virar sapo.
Bem, avião..coisa de outro mundo, para ambos, confesso.. mas a cara de pânico e suador que partiam dele era de pensar em desembarcar, o cara tava com muito medo.. quase não falava comigo e eu, sempre comunicativa tentava levar um papinho ameno, mas era como se estivesse conversando com um boneco de cera. A viagem toda.
Desembarque, calor terrível em pleno fevereiro, mas já esperado.. Baianas caracterizadas nos esperando, uau, a viagem promete.. passeiozinho, entrega do casal ao hotel, tudo lindo. Minha primeira surpresa fora do RS: eu namorava um naturalista enrustido..kkkkkk, O cara chegou no quarto (que tinha uma sacada com rede, de vista bonita) e decidiu entrar no clima tropical, ficou nú em pelo..
Achei que era sacanagem.. que logo ele iria se vestir, mas não. Era estranho ver uma pessoa nua andando para lá e para cá, deitando na rede, dormindo, bebendo, sempre pelado.. ele era meu namorado, mas confesso que não tinha visto ele sem roupas por tanto tempo no nosso mais de 1 ano de namorico.. decidi não esquentar.
Passeios, a noite prometia, como eu era uma menina segura, previnida, deixei meu dinheiro no Banco levando pouca coisa na carteira, o débito em conta já existia..
Mãos dadas, a caminho da passarela do álcool, risadas e uma constatação..perdi meu cartão..estava aqui, na bolsinha..não, não estava mais. Pronto, naquele momento senti minha independência escorrer pelo ralo.
Era feriado de carnaval, não havia como entrar em um banco no dia seguinte e explicar minha situação com minha identidade em mãos, não tinha como sacar dinheiro. Ele tinha que "pagar" tudo. aí surgiu uma cadernetinha..com todos meus gastos, até almoço era pago meio a meui..comecei a me irritar, que cara pão-duro eu pensava.. e aquele monte de artesanatos, tudo eu queria levar e para pagar: consentimento. Ou não consentimento. Ele levara talão de cheques, não custava emprestar as folhinhas, nem seriam descontados antes de voltarmos para casa, mostrei um extrato afirmando que eu TINHA DINHEIRO poxa.. mas nada, filho da mãe.
Os programas idealizados por cada um eram diferentes, eu queria compras, festinhas, culinária e ele praia, praia e praia, se possível sem gasto. Ahhhhhh como eu não percebera isso antes, com que eu vivera nestes últimos tempos? Um desconhecido?
Passeio em Trancoso, outras praias até uma longe bem longe que não lembro o nome.. sei o trajeto. Hotel, passarela do álcool, balsa, ônibus da prefeitura, chegamos ao local..era uma pequena vila, com muitas lojinhas..para chegar na praia, uma escadaria enorme, descer era fácil mas já imaginava subir.. Fomos para passar o dia, de roupas de praia, eu com um shortinho e biquini, ele só de bermuda, bolsa com toalha, protetor, câmera fotográfica, dinheiro "dele" e documento.
Caminhamos muito, mas muito. Eu queria parar, não aguentava, mas ele dizia que tinha uma "barraca" tradicional mais adiante, que estávamos fazendo o caminho pela praia, mas que existira outro (pensei, que demônio, para que caminhar tanto se existe caminho mais curto?). Ok chegamos ao aglomerado. Era muita gente, demoramos para conseguir uma mesa, estava para acontecer um show de forró, algo assim. A mesa era do lado do palco. Começa o show, eu irritada, chata mesmo (creio q com razão) queria ir embora mas ele, turbinado de cerveja adorou quando viu as dançarinas com suas saínhas rodadas fazendo piruetas e passinhos eróticos. Não teve piedade, começou, na minha frente, a fotografar literalmente as "bundas" que se aproximavam, não acreditei, disse a ele: que absurdo, seu tarado, tirando foto do traseiro das mulheres e ele me dá a resposta de ouro da viagem: Não, estou tirando foto da CULTURA DA BAHIA. Sim bunda mudou de nome.
Com muito ódio no coração e sentimento de vingança viro as costas e vou embora, valente, sabendo q a caminhada era longa, e com uma pequena esperança que ele se retratasse e fosse ao meu encontro. Que nada, continuou ele, a cerveja e a cultura.
Apressei o passo, caminhada, escadaria, mosquitos me picando ao cair da noite, passei mal com a caminhada longa e corrida, chegando na vila pedi para ir ao banheiro em um bar. Imaginem meu estado, devia estar péssima, com cara de dor de barriga, pois não deixaram eu utilizar, comprei uma água e o acesso foi permitido.
 Lojinhas. AHAAAAAA, Percebi que eu estava em poder do dinheiro (até hj não sei como ele pagou a cerveja), fui as compras. Mudei o figurino, estava com frio comprei camiseta, bermuda e até chapéu..kkk era noite mas eu estava me vingando, lembrem-se.
Tinham duas alternativas para a volta: ônibuis da prefeitura ou kombi que quando enchia, saía e era paga. Escolhi a kombi.
Um cara enorme sentou ao meu lado, feio que doía, já passou a mão por cima de mim, lá no fundão, eu rezava para que chegasse mais gente e a droga do veículo saísse..para minha surpresa, quem estava chegando? Sim ELE.
Subiu na kombi, percebi que algum dinheiro ele tinha depois desta escolha. sentou-se lá na frente, não me viu "abraçada" pelo feioso, o ônibus chega, todo mundo desce para pegá-lo afinal é de graça..quem ficou na Kombi? Eu, o m,eu mais recente "namorado baiano" e ELE.. Ah não..tô fora.
Corri para pegar o coletivo e para minha surpresa meu namorado tb correu e conseguiu entrar, bancos separados, parecia que nem nos conhecíamos mais..Chegamos na balsa que estava saindo tb, corri na frente e dei um salto estilo Indiana Jones, a água já aparecia quando embarquei, mas logo pensei, ele não conseguiu..hehehe
Os mosquitos em Porto Seguro são famintos, passei os minutos sendo sugada pelos insetos que pareciam cúmplices do meu namorado, me dando o troco pelo "abandono".
Passarela do álcool, não pude acreditar. Olhei para trás ele estava lá, acho q conseguiu embarcar também, parecia mágica, feitiço, vudú. Vi uma barraca de uma senhora que jogava búzios e eu me joguei lá dentro. Sim, fui cobrada, 25 reais (na época valiam mais q hoje) para ela me dizer que não iríamos ficar juntos, q novidade..rss
Bem, de volta ao hotel, ele já estava ao banho..percebo um papelzinho, tíquete de revelação de fotos.. o desgraçado se fissurou tanto na cultura que já havia mandado revelar o filme da câmera. Pego o papel, vejo o endereço, bem pertinho do hotel, saltei para lá em busca da prova que ele tinha pisado na bola, iria documentar a sacanagem, finalmente. Resultado? "Moça, o filme "velou", queimou, não saiu uma só foto, é uma pena.... Arrrrrrrrrggghhh
Fiquei eu com cara de tacho, toda esta história acabou no dito pelo não dito, eu fiquei sem a prova da "traição" e ele sem a lembrança da CULTURA DA BAHIA. Placar: 0 X 0.
Nem preciso dizer que voltando ao sul o namoro acabou. Com direito a conferência de despesas no caderninho e pedido de desculpa por parte dele que nunca admitiu os erros. Mas acabou. Agradeço ao Estado da Bahia por me livrar de um futuro ao lado de um pão-duro desrespeitoso e mulherengo.

2 comentários:

  1. ahahahaha, não consegui nem ficar com "pena" de você, de tão hilário que está este post. Nem percebi que era tão longo, pois tá muito gostoso de ler. Esses homens "pão duros"...rsrsrs. Bjos!

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  2. Concordo com o Luiz, mesmo sendo longo não dá vontade de parar de ler. Gostoso, moleque, adolescente o texto, fizestes me recordar da minha viagem do 3 ano. Muito bom!!!

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